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China responde as 10 principais dúvidas das empresas brasileiras de limpeza

Prestadoras de serviço chinesas compartilham com exclusividade ações adotadas durante o ápice da epidemia do coronavírus.

Em dezembro de 2019, a província de Wuhan, na China, identificava pela primeira vez um caso de infecção pelo novo coronavírus. Desde então, já se passaram três meses e mais de 32 mil pessoas já morreram no mundo, com registro de 697 mil infectados em decorrência da Covid-19, doença causada pelo tecnicamente chamado SARS-CoV-2.

Em meio à pandemia, e aos mais de quatro mil casos já confirmados no Brasil, o mercado brasileiro de limpeza busca respostas: para agir corretamente; para orientar parceiros, clientes e colaboradores; e para reforçar a limpeza como a arma mais eficaz no combate à proliferação da doença.

Por isso, o Portal da revista Higiplus ouviu o segmento, agrupou as dez principais dúvidas, e agora traz com exclusividade as informações obtidas por entrevista com duas prestadoras de serviço chinesas. Elas viveram de perto o pico da epidemia e agora compartilham com o mercado sul-americano suas experiências e conhecimentos fundamentais para vencer esta pandemia.

Portal Higiplus: O que as empresas de serviços adotaram como protocolo na desinfecção de ambientes contaminados e não-contaminados? Quais os produtos, processos e equipamentos que melhor funcionam?

Empresas de Limpeza da China: No dia-a-dia, adotamos o uso de máscaras, óculos, luvas de proteção e roupas especiais. Os veículos são desinfetados antes e depois da operação, com desinfetante à base de hidróxido de cloro (5%) diluído 1: 100, e é disponibilizado álcool 75% para desinfecção da equipe. Podem ser usados desinfetante de 250-500mg/l ou 500mg/l e álcool a 75% para borrifar e desinfetar recipientes de lixo, áreas de escritório, instalações públicas etc.

Em relação aos procedimentos, a equipe de limpeza primeiro executa a higienização e o transporte do lixo doméstico dos recipientes para o local onde o caminhão fará a coleta e, após, realiza uma operação de desinfecção, usando uma solução desinfetante Tipo 84 (exclusivo de fabricação chinesa) a 5% ou peróxido de hidrogênio na proporção de 1: 100. O lixo deve ser limpo no local, e o recipiente de descarte e seus arredores devem ser desinfetados ao mesmo tempo. Se o chão estiver muito sujo, é adicionado desinfetante ao tanque de água do carrinho de limpeza. Ao coletar o lixo, primeiramente o recipiente é pulverizado e desinfetado, o saco é recolhido e, por fim, o recipiente é pulverizado e desinfetado novamente. O lixo esporádico no chão, especialmente máscaras descartadas, deve ser recolhido com alguma ferramenta e não diretamente com as mãos.

Para limpeza externa mais pesada, atualmente existem dois tipos de veículos mais eficazes, limpos e seguros: um pequeno caminhão para limpeza de alta pressão, que inicia a operação para desinfetar todos os contêineres de lixo a partir das 7h30 da manhã; depois, das 10h às 16h, outro caminhão pipa que usa água e desinfetante à base de hidróxido de cloro para pulverizar e desinfetar as superfícies das ruas principais e secundárias.

Em locais fechados, como escritórios, foi adotado o teste de temperatura em todos os colaboradores duas vezes ao dia, desativados pontos eletrônicos por impressão digital, providenciada boa ventilação (preferencialmente natural) e, durante a epidemia, o ar condicionado foi estritamente proibido para evitar contaminação cruzada, com dutos de ar de retorno fechados. No mais, foram fornecidos todos os equipamentos e suprimentos necessários à lavagem das mãos. Quanto à higienização destes locais, a limpeza e desinfecção foi aplicada às estações de trabalho, elevadores, banheiros, pias, maçanetas e outras peças de contato frequente. Também é fundamental a disponibilização de caixas de reciclagem especiais para máscaras (em escritórios, empresas e também em locais públicos), bem como o gerenciamento e coleta adequada deste resíduo.

PH: Por ser tratar de um vírus, houve a adoção da “limpeza terminal” (padrão realizado em hospitais) nos escritórios e demais ambientes? Se não, quais os processos e princípios ativos mais utilizados nesses ambientes?

ELC: A “limpeza terminal” não foi usada em escritórios ou outros ambientes. Em um ambiente fechado, a desinfecção de superfície com desinfetantes que contêm cloro foi comumente usada. Assim, para escritórios, recepções e banheiros públicos são frequentemente usados ​​sprays de superfície para borrifar o desinfetante: limpe com um pano ou borrife com 250-500 ml/l de água sanitária, e depois desinfete o equipamento com álcool a 75%. Os ingredientes ativos comumente usados ​​são o desinfetante de cloro 500-1000mg/l, ou produtos locais como desinfetante Tipo 84, a 250-500mg/l ou a 500mg/l.

PH: Há POP (Procedimento Operacional Padrão) de higienização e desinfecção criado para ambientes/áreas críticas? Eles foram padronizados para todo o país? Como isso foi feito?

ELC: A província de Wuhan (epicentro do coronavírus) formulou padrões de desinfecção para áreas-chave, como locais onde ficam concentrados contêineres de lixo e áreas adjacentes, caminhões de coleta e áreas de quarentena. Em cada cidade, os padrões foram formulados pelo governo local, e de acordo com as condições reais, por isso estes procedimentos não foram uniformizados em todo o país.

PH: O surgimento do coronavírus culminou na criação de alguma nova tecnologia para limpeza? Mudaram os produtos utilizados atualmente? Vocês têm, por exemplo, alguma experiência com ozônio ou vapor durante o processo de limpeza?

ELC: Não temos experiência com ozônio ou vapor na limpeza. Mas houve a utilização de pulverizadores à gasolina, com volume de spray de 80 litros de água por hora (imagem de referência abaixo), o que melhorou muito a eficiência de trabalho em relação aos pulverizadores tradicionais No mais, atualmente não há novas tecnologias na limpeza contra o vírus, mas roupas de proteção médica estão disponíveis para evitar riscos biológicos. Todos os profissionais de limpeza devem usar roupas de trabalho à prova d’água, botas de chuva compridas, máscaras de proteção, luvas e sabão líquido para as mãos (ou álcool gel) e desinfetante. E fazer a desinfecção completa do equipamento de proteção após cada trabalho.

PH: As empresas da China criaram treinamentos específicos para preparar os trabalhadores da limpeza para o combate à epidemia? Como fizeram para treinar os profissionais em tempo hábil e com o contato entre as equipes reduzido?

ELC: Foi fornecido treinamento especial e houve dois métodos principais de treinamento: um foi distribuir materiais em espaços abertos, explicá-los no local e realizar operações de campo; outro foi compartilhar vídeos de proteção, operação e informações por meio de grupos WeChat (similar ao WhatsApp) e documentos relacionados. O ideal também é designar uma pessoa especial para realizar inspeções, e verificar se todos compreenderam as informações que lhes foram transmitidos.

 

PH: Como fizeram para repor trabalhadores afastados ou para contratar mais pessoal? Como resolveram o problema da mão-de obra-reduzida?

ELC: Devido à prevenção e controle eficazes, não possuímos funcionários infectados até o momento. Além disso, durante a epidemia, a cidade adotou um modelo fechado de prevenção: pessoas só entravam ou saíam dos condomínios com autorização, o que fez com que a sujeira das ruas diminuísse e, portanto, a força de trabalho fosse suficiente. No caso de haver escassez de pessoal em algum período crítico, administrativos como gerentes também foram envolvidos na linha de frente, e instituições públicas e pessoas da comunidade poderiam ser mobilizadas para auxiliar no recrutamento. Caso houvesse escassez neste grupo também, havia a possibilidade de contratar pessoal temporário.

PH: Como lidar com o medo dos trabalhadores de contrair a doença? O que utilizaram para proteger estes trabalhadores contra riscos biológicos? (protocolos, equipamentos etc.).

ELC: Em termos de materiais, a segurança dos trabalhadores é feita por uma série de ferramentas de desinfecção e esterilização fornecidas, como máscaras, roupas de proteção, desinfetantes, luvas etc.

Em termos de segurança social, ao adquirir o seguro médico básico para os trabalhadores, nossa empresa prontamente adquiriu um seguro para acidentes também.

Em termos de saúde psicológica, foi promovido amplo conhecimento sobre o novo coronavírus para membros de toda a equipe, dos altos setores administrativos aos trabalhadores da limpeza, para que compreendessem as características do vírus e dominassem os requisitos de proteção. Também houve consulta regular à saúde dos funcionários, medição de temperatura corporal com termômetros infravermelhos portáteis duas vezes ao dia e a promoção e entrega diária de todos os itens que os trabalhadores precisem.

Foi adotado, por fim, um método para reduzir o horário de trabalho, que garante que o lixo e máscaras descartadas sejam coletados e transportados a tempo de evitar a fadiga excessiva e de reduzir os riscos de trabalho para os funcionários. Eles, por outro lado, também demonstraram sua total determinação em vencer a luta contra a epidemia. Com a vida segura, corpo e mente ficaram felizes.

PH: Como é feita a desinfecção no transporte público? (trens, metrôs, ônibus). E para outras grandes espaços públicos?

ELC: Hospitais, aeroportos e locais com muita circulação de pessoas utilizam solução de desinfecção com dióxido de cloro para desinfecção, e pulverizadores portáteis de tubo duplo (similares à imagem já citada acima e imagem abaixo) para desinfetar de forma completa salas de espera, chão, assentos, elevadores etc.

Para pulverizar solução desinfetante atomizadora nas praças, estradas ou ruas podem ser utilizados caminhões pipa com varredeiras, veículos de limpeza de alta pressão ou mesmo caminhões de pulverização de água, como os de rega de plantas (imagem abaixo). Também há a opção de caminhões com canhão pulverizador.

 

Para veículos em horário de operação, é necessária desinfecção após cada viagem (para veículo e cabine) com desinfetante com teor efetivo de cloro de 500 mg /l. Já para veículos que retornam às garagens após concluir operações no fim do dia, é necessária uma desinfecção profunda: mergulhar o esfregão em desinfetante de 500 mg/l por 30 minutos e depois desinfetar o veículo com esfregão molhado. Para corrimãos, portas, assentos etc. que entram em contato com público denso, o pano deve ser embebido em desinfetante de 500 mg/l por 30 minutos, depois aplicado para limpeza e desinfecção, sendo selado por 30 minutos após a desinfecção e ventilado.

Quando há poluentes (sangue, secreções, vômitos e excrementos) nos meios de transporte, como trens, carros, metrôs, aviões etc., eles devem ser completamente cobertos com pó desinfetante ou alvejante que contenha ingredientes absorventes de água. Após, é despejada uma quantidade de 2000mg/l de desinfetante com cloro em um material absorvente de água por mais 30 minutos (ou toalha seca que possa atingir um alto nível de desinfecção) e a sujidade é removida com cuidado. O ideal é evitar o contato com esses potenciais contaminantes durante o processo de remoção, lembrando que este material deve ser descartado como lixo médico. Após a remoção, pulverizar a superfície dos objetivos contaminados com uma solução desinfetante de 2000 mg/l de cloro e limpá-lo. Lembrando também que, para aeronaves, os tipos e dosagens dos desinfetantes devem estar em acordo com a agência regulamentadora local.

PH: Houve algum apoio do governo (financeiro ou outros) às empresas de limpeza?

ELC: Em regiões como Shenzhen e Hangzhou foram fornecidos subsídios financeiros. Alguns governos também forneceram produtos de limpeza e materiais antiepidêmicos, apoiaram a prevenção e controle da epidemia, e apoiaram a retomada da produção e dos negócios. Houve ainda redução de impostos, políticas de redução de preços e empréstimos com baixas taxas de juros.

PH: O que recomendam para o Brasil, um país com grande extensão territorial, população com grande desnível cultural e financeiro, falta de recursos e de infraestrutura hospitalar para atender uma demanda de coronavírus?

ELC: Sobre o Brasil, antes de tudo o país precisa entender a seriedade dos perigos do coronavírus. É preciso despertar a consciência das pessoas para trabalharem juntas no combate à epidemia e para obedecer às exigências políticas do país. Em segundo, o Estado deve controlar em tempo hábil as áreas com epidemias mais severas, concentrar-se para garantir suprimentos adequados ao setor médico e de saúde, e controlar a movimentação de pessoas. Finalmente, todos os setores do governo, dos altos escalões aos governos estaduais e municipais, devem trabalhar juntos para fazer com as necessidades diárias da população sejam atendidas. E pedir ajuda a outros países, se for preciso.

Fonte: Empresas chinesas Hubei Xinxingjei Environmental Technology e Mindge Group, e do Manual de Orientação sobre Defesa Epidêmica da Hubei Xinxingjei.

Matéria produzida e publicada pela Revista Higiplux, em 26/03/2020. Dados estatísticos sobre coronavírus atualizados em 30/03/2020